26 de jan. de 2009

BUSCA DE PARADIGMAS


A natureza humana é fascinante em suas idiossincrasias, e para nós que estudamos o seu comportamento é uma delícia nos colocarmos no camarote das observações a ver os personagens da vida, do cotidiano desfilarem, desempenhando, interpretando os seus papéis.
Paradigma é um modelo, uma forma vigente e dominante de se conceber e compreender o mundo e o modo de agir e reagir de uma sociedade. Uma atitude, um conceito e uma forma de ser se tornam paradigmas quando são abraçados por eleição como sendo maneiras bem-sucedidas de ver, se ver, nos vermos culturalmente e passam a ser transmitidos às novas gerações. O paradigma não significa, necessariamente, algo que foi ou é bom, mas que deu certo, em algum momento, e se estendeu no tempo, na cultura.
Antonio Carlos Magalhães se tornou um paradigma, não nos debruçando aqui em juízo de valor, de qualidade, mas foi, sim, um modelo bem-sucedido no que se propôs. Desta forma, firmou-se um modelo, amado e odiado, mas marcou o seu tempo, fez a sua história, atrelando-a à política da Bahia. Destarte, vemos que os caracteres emocionais do velho senador emprestavam à política baiana características próprias - alguns pressupostos comuns, compartilhados, admirados por grande parte da população desta terra, ou de uma parcela significativa dela, na forma de um conjunto de premissas básicas que dão identidade a uma forma de ser político.
Essas pressuposições básicas foram formadoras do pensamento coletivo e se constituíram em um conjunto de referenciais que estabeleceram, em linhas gerais, as características populistas de um bom político. Assim, com a morte do senador Antônio Carlos Magalhães ficou o vácuo deste paradigma. O mundo, no entanto, está hoje com estruturas emocionais redefinidas, com valores menos restritivos.
O comportamento emocional, hoje, é determinado por um complexo jogo de predisposições sociais e condicionamentos. Assim, percebemos, ainda que jamais confessado, nem explicitado, ou talvez até nem mesmo consciente, as lideranças políticas em palco recebendo os estímulos externos que aguçam as suas reações emocionais, sendo direcionadas na formação de novos paradigmas, sem, porém, perder completamente o foco no que deu certo.
Vemos, assim, Gedell reforçando a imagem de forte, de que está para briga, mas sutilizando reações, apoiando-se mais na fina ironia do que no confronto; Wagner apostando na sua forma de ser, que o guindou ao Governo do Estado, mas também confiando em que se estiver bem avaliado, voltará a ser cortejado e João não querendo mais passar a imagem de indeciso, de quem chora.
É ou não é fascinante a natureza humana na busca de sua sobrevivência, de seus ideais, na seleção das espécies? Isso só vem ao encontro da certeza de que todos nós levamos em consideração as expressões exteriores de modelos firmados, mas colocamos as nossas idiossincrasias na tentativa permanente de imprimirmos nosso estilo, nossa forma de ser. Queremos sempre ser aceitos, em qualquer grupo que estejamos, sem que, no entanto, isso signifique abrir mão da nossa individualidade – o que não quer dizer que em algum momento não se copie o que deu resultado.


José Medrado é mestrando em família na sociedade contemporânea

Nenhum comentário: