29 de jan. de 2009

O CASO DO NEGRO JUSTINO

Uma das maiores contribuições do Espiritismo à humanidade é, sem dúvidas, o esclarecimento sobre Obsessão Espiritual. Obsessão é a influência que os espíritos exercem sobre as pessoas, quase sempre prejudicando-as.
Convém ainda explicar que, esses espíritos, nada mais são do que pessoas como nós, apenas desprovidas do corpo físico. Ou seja, após a morte do corpo físico, esses espíritos permaneceram ligados áqueles a quem estavam sintonizados emocionalmente, seja pelo ódio, seja pela paixão exacerbada, ou ainda, pela afinidade de gozos de determinados prazeres advindos dos vícios, quais sejam: O cigarro, as drogas, as bebidas, o sexo desvairado, os jogos, etc.
Quantas dores e sofrimentos a humanidade não tem suportado durante tantos séculos, sem que a medicina possa atinar para a causa, ou muito menos, saber a maneira correta de ajudar tantos pacientes de forma eficaz.
Pessoas com problemas mentais, de diagnóstico tão complicado que nenhum médico consegue encaixar, com segurança, na descrição de nenhuma patologia de seus compêndios.
Pessoas saudáveis, sem antecedentes patológicos na família ou, sequer, qualquer predisposição genética, começam a apresentar alterações em seu comportamento, muitas vezes dolorosos, irritando-se, desesperando-se, outras vezes tornando-se agressivos. Outros, ainda, passam a sofrer de doenças e males que, por mais que se tente, medicamentos terrestres não fazem efeito.
Um terceiro grupo de pessoas apresenta, ainda, uma forma de doença igualmente portadora de muitas dores: A doença da miséria.
Quero aqui classificar a doença da miséria de forma bem singular: Pessoas que por mais que trabalhem, que por mais que se esforcem, não conseguem prosperar na vida. Muitas vezes, falta-lhe o pão, o alimento mais básico e necessário. E isso, a despeito de seus gigantescos esforços para trabalhar, produzir e obter.

Hoje, ao começar a escrever este artigo sobre o que intitulei “O caso do Negro Justino“, lembrei da mãe de um amigo querido que trabalhava muito, acordando normalmente às 4 horas da madrugada para fabricar coxinhas e empadas para vender ( e assim, sustentar a família).
Muitas vezes ia deitar-se à meia-noite para, poucas horas depois, reiniciar a sua labuta. Não havia feriados. Não havia finais de semana. Não havia folgas.
O dinheiro era sempre pouco, e o trabalho sempre imenso.
Determinado dia, em uma reunião mediúnica, através de um espírito muito revoltado, o dilema esclareceu-se: Aquela senhora havia sido senhora de engenho, à época da escravidão no Brasil e, tendo muitos escravos, fazia com que eles trabalhassem sem cessar, de forma impiedosa, levando-os á exaustão e a morte muitas vezes, por excesso de trabalhos.
Aquele espírito que ali estava, apresentava-se como cobrador da dívidas geradas pelo seu comportamento. Ele havia sido um, dos muitos, que havia trablhado sem parar, até a morte. Era por isso que ele, além de outros também revoltados, influenciavam a vida daquela mulher nesta encarnação para que ela trabalhasse sem cessar, da mesma forma que havia obrigado a eles, outrora.
Tratava-se, enfim, de uma expiação através da obsessão dolorosa, que só a misericórdia divina e ação benéfica do amor do Pai, aliada ao tempo, ha de diluir.
Caso muito parecido ocorreu pessoas de nosso conhecimento. Eis o relato:
A médium, tinha por vizinha, uma família composta por cinco pessoas. Dentre elas, a filha de um casal em desajuste pelo alcoolismo paterno. A moça não possuia mais do que 18 anos e, por encontrar-se em dificuldades, a médium acatou a idéia de levá-la até a casa de um determinado político, que ofereceu-lhe um emprego.
Mal deixou a moça em casa, a médium começou a sentir uma certa indisposição, aliada a uma persistente e crescente dor de cabeça.
Horas depois e a dor de cabeça já era insuportável, fazendo-a chorar de dor. neste momento, fomos convidados a ministrar-lhe passes magnéticos , antes de oferecer-lhe algum analgésico.
Nossa intuição mostrou-se acertada. Mal iniciamos os movimentos visando a dispersação fluídica, apresentou-se uma entidade demonstrando muita revolta.
Eis, em linhas gerais, o nosso diálogo:
- Seja bem vindo, amigo. Em que podemos ajudá-lo?
- Quem mandou ela ajudar? Quem mandou? Não tem nada que se meter!
- Ajudar? Você parece referir-se à…
- Ela mesmo! Ela não vai arranjar emprego coisa nenhuma!
- E por que isso? Qual o motivo de tua revolta e qual a sua ligação com essa moça? Você está sofrendo muito e isos tem alguma razao de ser. Sei que você não é tão ruim assim. Por que essa tolice de fazer-lhe o mal?
(Essas palavras foram ditas de forma mais paternal possível, dado que senti vibrar em mim uma profunda piedade daquela critaura, mesmo sem compreender o porque.)
- Olhe, moço, eles são muito ruins. Fizeram muito mal a gente tudo. Nós era escravo. E eles judiava da gente. Eu cuidava do galinheiro. Meus amigos, do resto da casa. Eles só faziam judiar de nós.
Eu senti compaixão enorme por aquele pobre infeliz. Quis muito ajudá-lo. Não sei descrever o que senti, a intensidade do sentimento de piedade que senti por aquele homem simples e agredido.
Rogando o amparo divino, após alguns momentos de silêncio, falei-lhe com ternura:
- Qual é o teu nome?
- Meu nome? Meu nome é Justino. Justino.
- Você tem um nome bonito, rapaz!
- O sinhô acha?
- Sim, acho! Justino, você gostava de cuidar dos animais?
- Eu gostava. Muito! mas eles eram ruins com nóis tudo. - Voltou ele com seu pensamento cristalizado.
- Eu sei. mas isso já foi há muito tempo, amigo. Agora, talvez você queira descansar um pouco, e, sabe de uma coisa? Você tá fazendo alguém se aproximando de você?
- Tô sim.
- Então, essa moça vai ajudar você?
- Me ajudar? Que me ajudar, moço!? Eu sou preto! Ninguem ajuda preto, não!
- Ajuda, sim, amigo. Você gosta de fazenda, de animais, não é?
- Gosto sim, eu gosto, moço. Eu gostava de cuidar do galinheiro.
- Então, meu amigo, escute o que ela vai lhe dizer… escute…
- ...
- Ela tá dizendo que vai me levar prum lugar bem bonito. E que eu vou ganhar trabalho lá!
Havia um misto de alegria, deslumbramento e esperança na inflexão de sua voz.
Eu sorri. Sorrimos juntos. Ele estava cansado de tudo aquilo. Repetiu várias vezes que ia para um lugar bonito. Conversamos um pouco mais antes partir, me deixando com uma frase…:
- Sabe moço, eles nunca que vão ter nada, não! Eu vou imbora, mas lá tem mais. Tá todo mundo lá, na casa deles. Num vão deixar eles em paz, não. Eles eram muito ruins com nóis.
E despediu-se, chamando-me de amigo.
Dia depois, a mocinha comunicou à médium que, inexplicavelmente, o emprego dela havia sido recusado. E, como queixava-se da sorte, a médium caiu na besteira de contar-lhe o ocorrido, tentando, quem sabe, conscientizá-la da necessidade de voltar-se para Deus e buscar o perdão daqueles que os perseguiam.
Mas, infelizmente, a reação da mocinha, do alto de seu orgulho, não poderia ser mais cética:
- A gente? Fazer o mal a ninguém? De jeito nenhum, minha filha. Lá em casa, e a gente é tudo bom de coração. Ninguém seria capaz de fazer isso, não. Isso tá me parecendo invenção…
A médium sorriu.
E seguiu.
Há um ditado no Espiritismo que diz:
“A pétala de rosa desperta com o orvalho da manhã. A pedra, apenas com dinamite… “
Autor: Ylen Asor - ylen.asor@gmail.com

2 comentários:

FRED SANTOS disse...

Achei muito interessante essa estória do negro Justino e sua relação com o processo de obsessão na ótica espírita. Vale a pena ler e refletir.

Emana Luz disse...

como a lei divina e bela......
ficam na paz