28 de jul. de 2009

ESTUDO ESPÍRITA (1): O CHEFE DO ESPIRITISMO

- O pior de todos os chefes seria o que se desse por eleito de Deus. Como não é racional se admita que Deus confie tais missões a ambiciosos ou a orgulhosos, as virtudes características de um verdadeiro messias têm que ser, antes de tudo, a simplicidade, a humildade, a modéstia, numa palavra, o mais completo desinteresse material e moral. - Allan Kardec

Mas quem será encarregado de manter o Espiritismo nessa senda? Quem terá o lazer e a perseverança necessários a se consagrar ao trabalho incessante que essa tarefa exige? Se o Espiritismo for entregue a si mesmo, sem guia, não será de temer que se desvie da sua rota? e que a malevolência, com a qual ainda estará por longo tempo em luta, não procure desfigurar-lhe o Espírito? É essa, com efeito, uma questão vital e cuja solução se reveste do maior interesse para o futuro da Doutrina. A necessidade de uma direção central superior, guarda vigilante da unidade progressiva e dos interesses gerais da Doutrina, é tão evidente, que já causa inquietação o não ser visto, a surgir no horizonte, o seu condutor. Compreende-se que, sem uma autoridade moral, capaz de centralizar os trabalhos, os estudos e as observações, de dar a impulsão, de estimular os zelos, de defender os fracos, de sustentar os ânimos vacilantes, de ajudar com os conselhos da experiência, de fixar a opinião sobre os pontos incertos, o Espiritismo correria o risco de caminhar ao léu. Não somente essa direção é necessária, como também preciso se faz que preencha condições de força e de estabilidade suficientes para afrontar as tempestades. Os que nenhuma autoridade admitem não compreendem os verdadeiros interesses da Doutrina. Se alguns pensam poder dispensar toda direção, a maioria, os que não se crêem infalíveis e não depositam confiança absoluta em suas próprias luzes, se sentem necessitados de um ponto de apoio, de um guia, ainda que apenas para ajudá-los a caminhar com segurança.
Reconhecida a necessidade de uma direção, de quem receberá poderes o chefe para exercê-la? Será ele aclamado pela universalidade dos adeptos? É coisa impraticável. Se se impuser por sua própria autoridade, uns o aceitarão, enquanto que outros o recusarão, e podem surgir vinte pretendentes, levantando bandeira contra bandeira. Fora ao mesmo tempo o despotismo e a anarquia. Semelhante ato seria próprio de um ambicioso e ninguém conviria menos do que um ambicioso, por isso mesmo orgulhoso, para chefiar uma doutrina que se baseia na abnegação, no devotamento, no desinteresse, na humildade. Colocado fora do princípio fundamental da Doutrina, outra coisa não poderia fazer, senão falsear-lhe o espírito. É o que inevitavelmente se daria, se de antemão se não adotassem medidas eficazes a prevenir esse inconveniente. Admitamos, no entanto, houvesse um homem com todas as qualidades necessárias ao desempenho o seu mandato e que, por uma senda qualquer, chegasse à direção suprema. Os homens se sucedem e não se assemelham; depois de um bom, poderia vir um mau. Com o indivíduo, pode mudar o espírito da direção; sem maus desígnios, pode ele ter modos de ver mais ou menos justos; se entender de fazer que prevaleçam suas idéias pessoais, pode levar a Doutrina a transviar-se, suscitar dissidências e as mesmas dificuldades se renovarão a cada mudança. É preciso não esquecer que o Espiritismo ainda não está na plenitude da sua força. Do ponto de vista da organização, é uma criança que mal começa a andar. Insta, pois, sobretudo no princípio, premuni-lo contra os obstáculos do caminho. Mas, dir-se-á, não virá estar à frente do Espiritismo um dos Espíritos que, segundo foi anunciado, tem que tomar parte na obra de regeneração?
É provável; todavia, como esses Espíritos não trarão na fronte um sinal para serem reconhecidos; como não se farão reconhecer como tais pela maioria, senão depois de terem morrido, conformemente ao que houverem produzido durante a vida; como, ao demais, não serão perpétuos, mister se torna prever todas as eventualidades.É sabido que eles terão uma missão multíplice; que serão de todos os graus da escala espiritual e se encontrarão nos diversos ramos da economia social, onde cada um exercerá influência a favor das novas idéias, conforme a particularidade da sua posição; que todos, pois, trabalharão pelo ascendente da Doutrina, aqui e ali, uns como chefes de Estado, outros como legistas, outros como magistrados, sábios, literatos, oradores, industriais, etc.; que cada um dará provas de si onde lhe caiba exercer sua atividade, desde o proletário até o soberano, sem que qualquer coisa os distinga do comum dos homens, a não serem suas obras. Se a um deles couber tomar parte na direção, é provável que seja posto providencialmente na posição apropriada a fazê-lo chegar lá pelos meios legais que forem adotados; circunstâncias aparentemente fortuitas até lá o conduzirão, sem que de sua parte haja desígnio premeditado, sem mesmo ter ele consciência de sua missão. (Fonte: Revista Espírita: «Os messias do Espiritismo», fevereiro-março de 1868, páginas 45 e 65.)

Nenhum comentário: